Brasília, 5 – Quase 10 mil km de oceano Atlântico
separaram o Brasil de Moçambique, na África. Apesar da distância, o
agricultor familiar moçambicano Guidione Ezequiel Elias, de 42 anos,
afirma que as semelhanças entre os dois países são muitas,
principalmente no trabalho no campo. Ele é o presidente da Associação
Agropecuária Tilimbique, na vila Ulongue, no distrito de Angonia, e veio
conhecer o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que comemora 10 anos de
criação.
Junto com uma delegação de 11 países, Guiodione
visitou o assentamento Pequeno Willian, na zona rural de Planaltina
(DF), na manhã desta quarta-feira (5), para conhecer agricultores
familiares que vendem para o PAA. Moçambique é um dos cinco países
africanos que implementaram projetos-pilotos de fortalecimento da
agricultura familiar e de promoção da segurança alimentar e nutricional
com base no programa brasileiro. O PAA África é uma iniciativa conjunta
dos governos do Brasil e do Reino Unido, da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e do Programa Mundial de
Alimentos (PMA).
Guidione conta que, em seu vilarejo, o PAA
África modificou a vida de 2,4 mil famílias no ano de 2013. A produção
agrícola era vendida nos mercados locais e para ambulantes, mas, por
falta de compradores, a maior parte retornava para casa ou era trocada
por outros produtos, ou seja, quase não havia circulação de dinheiro na
comunidade. Essa realidade foi modificada com a aquisição de alimentos
pelo governo.
“Todos os produtores estão recebendo dinheiro
pela venda dos seus produtos ao PAA. As pessoas estão construindo casas
de alvenaria, isso significa que já ganharam dinheiro. E graças à venda
do milho, compraram motos, construíram casas bonitas, mudaram a vida e
começaram a dar estudos às suas crianças”, relata o agricultor,
destacando que os próprios filhos estão se alimentando desses produtos
nas escolas.
Leia mais:Em dez anos, Programa de Aquisição de Alimentos investiu R$ 5,3 bilhõesFAO: Brasil contribui para acelerar dinâmica mundial da luta contra a pobrezaO encontro da agricultura familiar com a gastronomiaGaleria de fotos PAA 10 anosExemplo brasileiro –
No Brasil, durante 10 anos, o PAA fortaleceu a agricultura familiar e
garantiu renda aos produtores, comprando os alimentos a preço de
mercado. Foram R$ 5,3 bilhões de investimento federal para a compra de
produtos de 388 mil agricultores familiares, atendidos pelo programa ao
longo de uma década. Ao todo, o governo adquiriu mais de 4 milhões de
toneladas de alimento fresco e saudável, que beneficiaram gratuitamente
mais de 23 mil entidades socioassistenciais.
É um modelo que o
presidente da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Campesinos da
Bolívia, Rodolfo Machaca, também se interessou em conhecer. “Para
eliminar a fome, a quem vamos confiar? Para nós, a esperança está clara,
temos que apoiar os pequenos produtores e camponeses para eliminar a
fome e a pobreza”, afirma.
A República do Paraguai também
enviou um representante, que irá intermediar uma cooperação técnica com o
Brasil. Recentemente, o governo paraguaio publicou um decreto de compra
institucional de alimentos da agricultura familiar e está solicitando
auxilio técnico para replicar o PAA em seu país. “Estamos apenas
começando, mas os alimentos adquiridos da compra direta vão para o
almoço escolar. O modelo que queremos copiar é o modelo brasileiro”, diz
o ministro Assessor da República do Paraguai, Juan Carlos Baruja.
Ao todo, participaram da visita ao assentamento 11 delegações
estrangeiras que têm políticas de segurança alimentar e nutricional em
seus países. Eles também estiveram na Cooperativa Agrícola da Região de
Planaltina (Cootaquara), para conhecer um modelo de cooperativa que
vende produtos para o PAA. Os agricultores familiares da Cootaquara
comercializaram 454 toneladas de frutas e verduras para o PAA de 2011 a
2013, e venderam 236 toneladas para o Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE), do Ministério da Educação, em 2012.
A visita
de campo faz parte da programação do Seminário Internacional PAA +
Aquisição de Alimentos no Ano Internacional da Agricultura Familiar, que
aconteceu nesta terça-feira (4), em Brasília. O evento comemorou os 10
anos do PAA no Brasil.
Sem agrotóxico – O
assentamento Pequeno Willian recebeu apoio da Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater/DF) e da Fundação
Banco do Brasil para a implantação do Sistema de Produção Agroecológica
Integrada e Sustentável (PAIS), uma tecnologia social de apoio à
agricultura familiar para a produção de alimentos sem agrotóxicos.
Em 2013, 15 famílias cultivaram hortaliças em cinco áreas coletivas. Os
alimentos produzidos renderam 1,5 tonelada por semana e chegaram a
abastecer quase 50% da Unidade de Recebimento e Distribuição de
Alimentos (URDA) de Planaltina. Toda a produção foi vendida ao PAA, que
rendeu R$ 67,5 mil no ano passado.
De acordo com a
extensionista social da Emater/DF Cristina Lima, os agricultores são
incentivados a plantar alimentos diversificados e de qualidade, o que
contribui para uma alimentação mais saudável das próprias famílias. “Com
o dinheiro do PAA, alguns melhoraram suas residências, outros compraram
pequenos animais para incrementar a alimentação da família e ainda
guardaram dinheiro para reinvestir em 2014 e fornecer para o PAA
novamente”, explica.
Os alimentos produzidos pelos agricultores
do Pequeno Willian, comprados em 2013, abasteceram gratuitamente 25
entidades socioassistenciais de Planaltina e Sobradinho (DF) que atendem
2,2 mil pessoas em situação de insegurança alimentar ou que foram
atendidas pelos serviços do Sistema Único de Assistência Social (Suas).
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