Na
cidade e no campo, a transferência de renda associada a outros
programas sociais transforma a vida de comunidades e gera retorno para a
economia de todo o país: cada real investido em transferência de renda
gera retorno de R$ 1,78 no PIB
O efeito mais
imediato do Bolsa Família é o alívio da situação de pobreza, do ponto de
vista monetário, para as 13,8 milhões de famílias que recebem o
benefício. Mas o impacto da transferência de renda vai muito além disso.
Além de melhorar a vida de cada família, o programa estimula o
desenvolvimento da economia local. E, aliado a outros programas sociais
que utilizam o Cadastro Único do governo federal como referência, o
Bolsa Família tem transformado a realidade de comunidades inteiras.
Em
Novo Hamburgo (RS), o ex-catador de materiais recicláveis Ernani da
Rosa viu mudar a vida da sua família e de todos os seus vizinhos. Lá, o
Cadastro Único assegurou moradia digna para dezenas de famílias em um
residencial do Minha Casa, Minha Vida, construído no bairro Boa Saúde.
Ernani havia perdido sua casa, erguida em local de risco, durante um
deslizamento de terra. Junto com ela, foram-se todos os pertences da
família. “Primeira coisa que eu precisei foi do cadastro do Bolsa
Família e daí comecei a receber contribuição. Mais um pouquinho pra
frente nós entramos no sistema Minha Casa, Minha Vida”, lembra.
Ernani
foi morar no novo bairro, junto com outras famílias que, graças ao
Cadastro Único, foram incluídas em programas sociais e deixaram a
situação de vulnerabilidade. O efeito dessa mudança refletiu no comércio
local. “A partir da chegada dos moradores do Minha Casa, Minha Vida,
meu movimento passou a dobrar”, comemora a comerciante Rosange Belinos
de Souza. “Em função deles vieram também os mercados grandes”, conta.
Além
da comodidade para as famílias do novo bairro, a ampliação do comércio
também trouxe mais empregos para os moradores. “A minha vida melhorou
bastante, eu consigo manter a minha família. Eu consigo manter a minha
filha. Eu agora estou respirando melhor”, diz, aliviado, Luís Fernando
de Oliveira, que conseguiu um emprego de operador de loja em um
supermercado aberto há pouco tempo no novo bairro.
Retorno
O efeito da política de transferência de renda sobre a economia brasileira é tema de um capítulo do livro Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania,
que será lançado no dia 30 de outubro. O texto, assinado por três
autores – entre eles o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), Marcelo Neri –, revela que cada real investido no Bolsa
Família estimula um crescimento de R$ 1,78 no Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro. “Esses resultados sustentam a hipótese de que as
transferências sociais voltadas para os mais pobres – principalmente as
do Programa Bolsa Família – cumprem papel positivo importante para a
dinâmica macroeconômica brasileira, além de contribuir para a redução da
pobreza e desigualdade”, sustenta o texto.
Para o secretário
nacional de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS), Luís Henrique Paiva, o impacto da transferência
de renda se amplia quando ela se associa a outros programas sociais que
utilizam o Cadastro Único como base. Um exemplo, segundo ele, é a tarifa
social de energia elétrica. “Antigamente, o desconto era dado a pessoas
que consumiam pouco, mas não exatamente as mais pobres. Hoje, com a
utilização do Cadastro Único como base, esse desconto vai para quem
realmente tem a renda mais baixa e o recurso que a família deixa de
gastar com energia também volta para a economia na forma de consumo”,
explica.
O Cadastro Único, atualmente, é referência para 18
programas sociais do governo federal. Entre 2002 e 2013, o número de
famílias inscritas cresceu de 5,5 milhões para quase 26 milhões. Isto
significa que um quarto da população brasileira – constituído por
famílias com renda mensal de até três salários mínimos – consegue
acessar políticas públicas voltadas aos segmentos mais pobres graças a
essa base de dados.
Mais da metade das famílias do Cadastro Único
recebe o Bolsa Família. O benefício médio, que em setembro foi de R$
152,35, abastece o comércio e faz girar o motor do desenvolvimento.
“Esse novo nicho de mercado foi percebido ao longo desse período em
função de aumento de renda da população e, em função disso, a gente cria
investimento, novas oportunidades, vai pesquisando novos produtos”,
explica o empresário Carlos Luís Sost, de Tupandi (RS).
No campo, cisternas melhoram convivência com a seca Enquanto nas cidades o desenvolvimento das comunidades mais pobres é alcançado graças à associação do Bolsa Família com programas como o Minha Casa, Minha Vida, Tarifa Social de Energia Elétrica e outros, no campo são as cisternas que, junto com a transferência de renda, ajudam as famílias de agricultores a impulsionar a economia e melhorar de vida. Especialmente as famílias que vivem no Semiárido Brasileiro e enfrentam os efeitos permanentes da seca. No Ceará, a família de Antônia das Graças, mais conhecida como Dona Gracinha, hoje consegue sobreviver da produção agrícola. Isso graças à cisterna de calçadão que foi instalada na comunidade da Caatingueirinha, onde ela vive, a 365 km de Fortaleza, na região da Serra do Pereiro. A cisterna de calçadão é uma tecnologia simples e barata de armazenamento de água. Com capacidade para 52 mil litros de água, ela abastece a produção de alimentos e a criação de pequenos animais. Para Dona Gracinha, que é beneficiária do Bolsa Família, a cisterna trouxe a chance de uma vida melhor para toda a comunidade. “Quando a gente começou a produzir, a gente começou a pensar em fazer uma feira da Agricultura Familiar no município pra aumentar a nossa renda”, conta. Junto com outras mulheres, ela sai de casa bem cedo. Às 6h, as mulheres da Caatingueirinha já estão a postos, na sede do município de Potiretama, vizinho à comunidade. “Através desse projeto, a gente pôde se relacionar mais com as comunidades, a gente pôde se relacionar mais com o povo”, avalia Naildes da Silva Mendes, uma das mulheres que participam da Feira da Agricultura Familiar. Para elas, mais do que o aumento da renda familiar, os programas sociais trouxeram o resgate da autoestima. “A gente tinha uma discriminação muito grande sim por ser pobre, hoje mudou totalmente a gente tem o apoio total.” |
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