O
ressentimento ficou no passado. O homem do campo construiu uma vida de
orgulho, mas que só agora pode colher os frutos que sempre plantou,
garantindo um novo sentimento de dignidade.
“Cana eu
não quero mais nunca, eu gosto de coisa que come. E minha vontade é de
só ir crescendo”, conta Jaime Fagundes, de 68 anos, que deixou de lado o
uso das foices nos canaviais, em Bebedouro, interior de São Paulo, para
se dedicar a uma produção própria e, com isso, à construção de uma vida
mais digna para ele, filhos e netos.
A mudança na vida de Jaime e
de mais 263,5 mil agricultores familiares, espalhados pelo país, só se
tornou realidade, com o apoio de uma rede de cobertura que começou com o
benefício do Bolsa Família.
Mas as conquistas sociais se
seguiram com as políticas públicas de inclusão produtiva rural, que tem
seu maior alcance na cobertura do Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA) e de toda rede de fomento à produção.
A evolução é maior, na
opinião desses agricultores, quando se percebe que o orgulho pela vida
no campo contagiou todo o núcleo familiar. Foi assim que surgiu a figura
do pai herói.
“Vejo o meu pai como um herói, como um homem
vencedor!”, enaltece Leila Santos, filha de Jaime, que cresceu nesse
ambiente de pouco horizonte, “sofrido”, como descreve o ex-cortador de
cana:
“Eu trabalhava para usineiro. O que eu ganhava de dia, não
dava nem para comer à noite e, como eu fui ficando mais velho, a doença
foi chegando. Aí, eu falei: agora eu estou num mato sem cachorro”, diz
ele, para contar em seguida, como foi sua última mudança. “Surgiu esse
assentamento. Juntei os trapo e a família”.
O Bolsa Família
garantiu a renda mínima para que Jaime Fagundes tomasse a decisão.
Porque ele sabia que começaria tudo de novo, um novo ciclo em sua vida.
“Eu
só tinha uma enxada e um enxadão. Começamos a plantar. Aí, as coisas já
foram melhorando. Eu peguei um financiamento, o Pronaf; comprei uma
irrigaçãozinha pra começar com a horta; comprei esse gotejamento.
Comecei a tocar o serviço: plantava arroz, feijão, milho, quando já
tinha o tratorzinho,” narra Jaime.
A ministra do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, tem debatido o Bolsa
Família em todo o país e de como o programa alavancou a vida de uma
parcela da nossa população que sempre viveu à margem das políticas
públicas. Ela comprova essa evolução com números. Alguns deles atestam a
reação do agricultor familiar, dos extrativistas e de diversas áreas
produtivas cercadas pela vulnerabilidade social.
A ministra
ressalta que 75% das pessoas atendidas pelo programa trabalham e que a
maioria gasta o benefício com alimentação, roupas e despesas para
melhorar a qualidade de vida da família.
Isso comprova que a
sensação de bem-estar de Jaime Fagundes e de sua filha é uma nova
realidade, também disseminada pelo público atendido pelo programa.
Segundo o MDS, do total de agricultores familiares que recebem o Bolsa
Família, 145 mil fornecem produtos ao PAA e ao Programa Nacional de
Alimentação Escolar (Pnae).
10 anos de PAA
O
PAA, um dos programas do eixo de inclusão produtiva rural do Plano
Brasil Sem Miséria, também completa dez anos de execução este ano, assim
como o Programa Bolsa Família. As duas políticas públicas se
complementam, na medida em que o beneficiário evolui nessa rota de
conquistas de direitos sociais.
O PAA atende ao público do Brasil
Sem Miséria no campo, formado, além dos agricultores familiares, por
assentados da reforma agrária, acampados, extrativistas, pescadores,
quilombolas, indígenas e outros povos e comunidades tradicionais. O
Plano estabelece um ciclo específico para a inclusão produtiva rural,
com foco no aumento e no aprimoramento da produção, melhorando, assim, a
renda e a alimentação das famílias.
O Brasil Sem Miséria oferece
recursos para que essas famílias invistam em suas terras, além de
acompanhamento individualizado e continuado de técnicos agrícolas, que
ensinam formas de aumentar a produção, a qualidade e o valor do
produto.
O PAA é a etapa seguinte, um canal de comercialização,
que compra a produção de agricultores familiares. A previsão
orçamentária para o PAA, em 2013, é de R$ 1,3 bilhão. São recursos do
MDS (R$ 1,2 bilhão) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Nos dez
anos de programa, já foram aplicados R$ 5 bilhões em recursos para as
compras institucionais, totalizando 3,5 milhões de toneladas de
alimentos da agricultura familiar.
As ações de inclusão produtiva
rural são planejadas e executadas com base nas diferenças regionais do
país. É preciso um foco diferente para atender aos beneficiários de
todos os cantos do Brasil.
Por isso, a junção de programas
diversos, dispostos no Plano Brasil Sem Miséria, com ações voltadas para
o semiárido, por meio do programa Água Para Todos, que já entregou, até
agosto, 224 mil cisternas de água para consumo no Nordeste e Norte de
Minas Gerais; e com ações voltadas à inclusão produtiva de
extrativistas, assentados e ribeirinhos, como o Programa Bolsa Verde,
que já atende a 40,5 mil famílias em todo o país e que também seguem a
rota do desenvolvimento econômico e sustentável.
O extrativista
João Batista Ferreira Silva, de 39 anos, vive na reserva Chico Mendes,
em Xapuri, no Acre, com uma família grande que também preserva os laços,
assim como Jaime Fagundes. Ex-cortador de cana que continua vivendo no
campo, Batista comemora o fato de permanecer na floresta e garantir as
mesmas conquistas que os trabalhadores das cidades.
“Eu tenho oito
filhos e só um que não está na escola, porque já concluiu o Segundo
Grau [Ensino Médio]. Mas os outros sete estão estudando. O Bolsa Família
deu uma renda a mais pra gente. É o dinheiro para comprar o material
escolar das crianças: caderno, lápis, borracha, bolsa”, enumera o
extrativista. E acrescenta: “Quero dar o melhor para que os meus filhos
estudem, se formem e sejam professores,” continua Batista.
Geciane,
uma das filhas de Batista que virou professora, na comunidade de
extrativistas, fala com orgulho dos rumos que tomou a vida de seus pais e
irmãos.
“Fico muito honrada de ter a oportunidade que meu pai e
minha mãe não tiveram de completar o Ensino Médio e poder passar o que
eu aprendi para os outros”, diz, rodeada pelos irmãos que lutam pelo
mesmo destino.
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